sábado, 6 de março de 2010

TEXTO nr. 2 – Verão de 2010

As verdades que (não) podem ser verdade

Vivemos na era da informação, nunca houve época igual. O acesso a todo tipo de dado pode ser feito de um computador conectado à internet. Simples e rápido. No entanto me parece que estamos mais perdidos agora do que na época das trevas da idade média. Com tanto informação acredito mesmo que os “novos ricos” da era atual serão aqueles que conseguirem diferenciar o que presta das bogagens, como disse Umberto Eco. Li uma reportagem que falava que uma substância utilizada em alisantes de cabelo, paixão das mulheres, induz mutações no DNA. Transcrevo parte da notícia “Coordenada pelo cientista Israel Felzenszwalb, do Laboratório de Mutagênese Ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a pesquisa mostra que a substância mais perigosa é o ácido pirogálico, ou pirogalol, presente em alisantes industriais do tipo henê.”. Leio ainda na mesma reportagem que desde 1976 esta substância era proibida da Europa. Mas aqui no Brasil nada se falou e ela continuou liberada. E esse silêncio de mais de 30 anos é ou não igual àquele da época medieval? E será que existem outras verdades que ainda não podem ser verdade; ou que ainda não sabemos se é verdade ou mentira? Isso tudo me deixa muito perplexo.
Por curiosidade, ao fazer uma pesquisa sobre fornos microondas me deparo com questionamentos quanto ao uso seguro de tais equipamentos para o preparo e aquecimento de alimentos. “É possível que milhões de pessoas sejam ignorantes, sacrificando sua saúde em troca da conveniência dos fornos a microondas? Porque a União Soviética proibiu o uso dos fornos a microondas em 1976? Quem inventou os fornos a microondas e por quê? As respostas para estas perguntas podem induzir-lhes a jogar no lixo o seu forno a microondas.” São questões que aparecem ao se fazer rápidas pesquisas na rede mundial de computadores. “E agora, José?”. Nada, absolutamente nada se fala nos meios de comunicação que rebata tais afirmações sobre alterações nos alimentos preparados pelos fornos microondas. E, no entanto, essas pesquisas, são meio que clandestinas. Ou assim nos fazem pensar, afinal elas parecem mesmo clandestinas, afinal de contas ninguém fala sobre elas, nunca são rebatidas, nenhum telejornal ou revista fala sobre tais questões “absurdas”. São ignoradas, apenas. E de tão absurdas são jogadas para baixo do tapete, no completo anonimato da grande mídia. Mas por quê? Alguém será que já se perguntou o motivo de não serem contestadas, já que são assim tão absurdas? Se por acaso são mentirosas certamente os fabricantes de fornos microondas poderiam divulgar as suas próprias pesquisas, que demonstrariam como esses excelentes e práticos eletrodomésticos foram uma das mais incríveis invenções humanas da atualidade. Mas tais pesquisas eu ainda não li... Porque será que não foram ainda amplamente divulgadas? Acho que então eu posso continuar com o pé atrás em usar indiscriminadamente essa alternativa para elaborar os alimentos. E então continuo a me perguntar, será que passarão quantos anos até que finalmente alguém “descubra” que aqueles forninhos de microondas que a vovó usava causavam mal à saúde, que induziam mutações de DNA, ou câncer, ou sei lá o quê? Será que essa também é uma verdade que (não) pode ser verdade?
E assim continuo, ao ler notícias na internet, a me deparar com muitas afirmações que me deixam sem saber onde a verdade está. Ao pesquisar, por exemplo, sobre famoso “spam” (email que se espalha como praga pela internet) que alardeia a benéfico uso da Graviola como milagrosa cura para o câncer, encontro vários textos que citam, por exemplo, que “As folhas, raízes e sementes da Graviola demonstraram propriedades de ação anti-séptica ativa em um estudo feito em 1940.”. Mas que estudos são esses eu me pergunto? E o texto não dá nenhuma resposta. Mas continua: “Em 1997, num estudo clínico mais recente, foram encontrados alcalóides no fruto da Graviola com efeitos antidepressivos em animais”. Novamente a gente fica a se perguntar, que estudo clínico foi esse? Se eu quiser saber mais detalhes onde encontro esse estudo? Nada. Novamente o silêncio das trevas medieval toma conta da nossa leitura e ficamos sem saber se é outra verdade que (não) pode ser verdade.
São tantas interrogações nesse texto que eu fico a me perguntar se vale continuar com essas divagações. Estou querendo esclarecer algo ou deixar tudo ainda mais confuso? Na verdade nem uma coisa nem outra. A questão central aqui é sempre a mesma, uma pá de idéias que possa abrir a cabeça do leitor. Fazer com que novos questionamentos aflorem. Evitar o marasmo do pensamento, não deixar que a mente fique a vagar entre a propaganda da Coca-cola e a novela das oito. Chegar à verdade é uma busca incessante, uma perseguição que consome nossas forças, que balança nossa fé.
E pra finalizar, será que eu ainda falo sobre a chegada do homem à lua, ou então sobre o holocausto, o extermínio dos judeus na segunda guerra mundial? Pois é, existem sim contestadores dessas verdades (irrefutáveis?). Melhor eu parar por aqui, antes que seja rotulado de anti-semita ou comunista... Mas é difícil, passam alguns minutos e começo a lembrar das histórias de Dan Brown sobre Jesus, e assim devo continuar nessa interminável dúvida sobre a verdadeira verdade. Será que é mais feliz aquele que fica alienado de tudo e acerca de nada se questiona de tudo que vê e ouve neste mundo? Essa é uma decisão como tantas outras que tomamos nas nossas vidas. Podemos escolher se buscamos a luz ou continuamos nas trevas. A idade média, como eu já disse, já passou, mas muito ainda permanece obscuro após tantos anos. Se querem viver atrás da verdade sigam-me! Ou se acomodem na feliz ignorância, eis a encruzilhada que se coloca à nossa frente.
Esse é o texto do verão de 2010, que assim encerro desejando que o outono possa trazer uma brisa mais amena, já que esse acalorado debate iniciado aqui por certo não tem data para acabar. E espero que com o outono o clima ajude a cicatrizar os danos que a pá de idéias possa ter feito na cabeça dos leitores mais inadvertidos. Eventualmente, caso a cabeça tenha sido aberta pela pá de idéias, não é o caso de pedir desculpas, afinal é ótima oportunidade para se continuar a questionar as verdades, as verdades que são mentiras, as mentiras que são verdades, ou as verdades que (até) podem ser verdade mesmo, até que possam encontrar as verdadeiras verdades.

Referência citada no texto:
Ingredientes de alisantes de cabelo podem induzir mutações no DNA. Fonte: Agência O Globo. Disponível: http://www.clicrbs.com.br/especial/sc/donnadc/19,0,2793484,Ingredientes-de-alisantes-de-cabelo-podem-induzir-mutacoes-no-DNA.html. Acesso em 23 Fev. 2010.

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