terça-feira, 22 de dezembro de 2009

TEXTO nr. 1 – Primavera de 2009

Quando minha esposa comentou que gostaria de fazer mestrado em sociologia eu achei uma ótima idéia. Esforcei-me para incentivá-la, fui atrás de informações sobre o programa de pós-graduação; pesquisei o preço dos livros indicados na bibliografia que precisava ser estudada para a prova de admissão. E dessa busca acabei encontrando um texto publicado na revista eletrônica dos pós-graduandos em sociologia política que se chamava: “A marca Mc Donald’s na sociedade de imagens: mídia e cultura no capitalismo em crise”, escrito por Paulo Liedtke. O texto me chamou muito a atenção já pelo título. Fiquei empolgado e decidi que seria muito bom iniciar meu blog para compartilhar algumas idéias. Mais que isso, acabei por me lembrar daquela música chamada “É só imagem”, de uma antiga banda gaúcha dos anos 80 com nome inusitado: “Os Eles” (talvez não soubessem na época, mas eles estavam sendo arautos dessa tendência mundial que era lenta e cuidadosamente planejada). É algo que nos passa despercebido na correria do dia-a-dia, mas que é evidente se paramos um pouco para refletir: como estamos, todos nós, envolvidos num mundo de imagens, que nos padroniza e nos coloca produtos e pensamentos uniformemente planejados. É a sociedade cada vez mais “midiática”. Antigamente a famosa frase de Descartes “Penso, logo existo” fazia muito mais sentido. Hoje parece que vale mais o “Sou famoso, logo existo”. É todo mundo vivendo um “Big Brother”, até o desenho para as crianças tem uma canção que diz e repete várias vezes “eu quero ser famoso... lááá-lá-lá-lá-láá”. É, vale a pena já ir incutindo na criançada o que devem buscar quando forem adultos, não é mesmo? Ou seja, definitivamente estar “na imagem” hoje em dia é existir. Se estou na TV ou em outro meio de comunicação sou o máximo, mesmo que por efêmeros segundos. E se o motivo foi uma micro-saia que virou caso de polícia, o que isso importa? Depois eu consigo aparecer em todos os programas de TV e ainda ganhar uma graninha que é o que importa nessa vida não é mesmo? (Para os desavisados ou para refrescar a memória falo do caso ocorrido com a aluna que foi hostilizada por alunos da universidade UNIBAN em São Paulo e que se configura em mais uma das muitas personagens que aderiram à busca incessante do “quero aparecer a qualquer custo, logo existo”.
É, vivemos sem nos darmos conta no American Way of Life que me fez lembrar de novo daquela banda que eu mencionei antes e que também cantava uma canção que tinha exatamente esse título “American Way of Life”; bem só posso dizer que eles estavam bem ligados no que estava acontecendo nos anos 80, eram verdadeiros visionários, apesar de muitos não captarem direito o que eles estavam querendo mostrar. A letra da música era bem interessante, uma crítica direta à vil lavagem cerebral que estava, cada dia, mais e mais insidiosa nas mentes de todos. A letra da música, bastante contundente, fazia qualquer um que não fosse totalmente alienado ficar pensando sobre as mudanças que estavam pouco a pouco acontecendo, e falava assim:

“Quando eles entram na sua mente
Como você vai se defender?
Vai vestir uma bombacha?
Ou usar aquela espora?
Não adianta mais ouvir milongas
Tomar chimarrão
Vestir com tradição
Você entrou no American Way of Life

Quando penetram na sua alma
Como você vai se proteger?
Vai cantar um samba-enredo?
Ou recitar Castro Alves?
Não adianta mais dançar um frevo
Tomar guaraná
Clamar aos orixás
Você entrou no American Way of Life

Neste âmbito fica claro como se obteve sucesso nessa questão de penetrar na alma das pessoas. Basta “querer ver” para se perceber a coerção daquelas culturas regionais mais fortes que estão presentes em estados brasileiros como o Rio Grande do Sul ou Pernambuco. Busca-se um constrangimento daqueles que ainda lutam para manterem-se fora do “American Way of Life”. Aqueles que pregam o “Nativismo”, a preservação das culturas locais, são cada vez mais foco de atos discriminatórios. A mídia, agindo assim, tenta enfraquecer a cultura própria de cada povo e evitar a formação de cidadãos críticos, no afã de formarem uma massa amorfa de consumidores que atendam aos apelos do “lixo” travestido de luxo apregoado pelas famosas marcas mundiais.
A cultura “McWorld”, codinome que pode ser dado à cultura mundial norte-americana, passa também (e talvez principalmente) pelo cineminha do final de semana, pela telenovela, pelo DVD da locadora, pelo passeio no shopping, é, meu amigo, a indústria do entretenimento torna-se assim forte aliada, instrumento de manipulação e dominação da sociedade, ou você acha que a mentalidade dos indivíduos não é lentamente manipulada para gerar a passividade e conformismo social que estamos vendo hoje em dia?
Parece que os fins justificam os meios, afinal inversão de valores é o que mais se tem visto no mundo contemporâneo. "O mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro da indústria cultural” (ADORNO, Theodor W. & HORKHEIMER, Max . Dialética do Esclarecimento. Zahar Ed, RJ, 1985.).
Para aquelas que a pá conseguiu abrir a cabeça os textos abaixo podem preencher alguns dos espaços vazios que se formaram:
ADORNO, Theodor W. & HORKHEIMER, Max . Dialética do Esclarecimento. Zahar Ed, RJ, 1985.
BARBER Benjamin R., Cultura McWorld. In: Por uma Outra Comunicação: mídia, mundialização cultural e poder, Ed. Record, RJ, 2003.
1 51 LIEDTKE, P. / EmTese, Vol. 2, nº 1 (2), p. 122-152

DANTAS, Marcos, A lógica do capital-informação: a fragmentação dos monopólios e a monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais. RJ, Contraponto, 2002.
DEBORD, Guy. A sociedade do Espetáculo, Contraponto, RJ, 1997.
FONTANELLE, Isleide. O nome da marca: McDonald's, fetichismo e cultura descartável, Boitempo Editorial, SP, 2002
JAMENSON, Frederic. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. Ed. Ática.
KLEIN, Naomi. Marcas globais e poder corporativo. In: Por uma Outra Comunicação: mídia, mundialização cultural e poder", Ed. Record, RJ, 2003.
LIEDTKE, Paulo F. A esquerda presta contas: comunicação e democracia nas cidades, Editoras da UFSC e Univali, 2002.
MÉSZÁROS, Instván. Para além do capital. Boitempo e Unicamp, SP, 2002.
MORAES, Denis. O capital da mídia na lógica da globalização. In: Por uma Outra Comunicação: mídia, mundialização cultural e poder", Ed. Record, RJ, 2003.
WALLERSTEIN, Immanuel. Análise dos sistemas mundiais. In: GUIDENS, A. & TURNER, J. (org) Teoria Social Hoje, Ed. Unesp, SP, 1999.

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